Cool Hunters



Lembram quando a gente falou em sala sobre os Cool Hunters, ou caçadores do cool? Pois aqui tem um vídeo muito bom pra gente compartilhar.

Texto do aluno Francisco Jurandir de Souza

Articulação excelente do nosso colega Jurandir entre os textos: Vida Líquida (de Zygmunt Bauman) e Leônia, do livro Cidades Invisíveis (de Ítalo calvino)

O texto de Bauman, retrata muito bem a vida de todos os seres humanos num mundo capitalista do séc. XXI, dito moderno ou contemporâneo, onde a cultura de consumo impregnada na mente das pessoas, aguça uma busca desenfreada para saciar suas necessidades e desejos objetivos e subjetivos, conscientes ou inconscientes, numa velocidade que já não permite nem mesmo identificar o que de fato se busca na verdade.

Segundo Bauman a “vida líquida” e a “modernidade líquida” estão intimamente ligadas e que a sociedade líquido-moderna “é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas das formas de agir”. (grifo meu)

Recentemente, ouvi de uma jovem de vinte anos a seguinte frase: “Eu não sei mais o que vou fazer da minha vida”, numa fala que expressa implicitamente angústia, dúvida e desamparo, característicos do mundo moderno, onde as pessoas se sentem sozinhas, abandonadas e inseguras, num claro contraponto ao mundo tradicional em que as instituições, principalmente a família, davam condições e normas de suporte à existência. A despeito de sua condição de vida, esta jovem não está sozinha quanto aos sentimentos expressados, ouço de muitos jovens depoimentos da mesma natureza, afinal, são manifestações de quem vive no âmago do mundo moderno; são muitas as incertezas e informações ambíguas que a vida líquida apresenta, numa fase de transição da humanidade que avançou muito na tecnologia das coisas e ainda muito pouco na tecnologia das pessoas para viver e conviver com a liquidez da vida.

Nesse contexto, cada um se sente como se estivesse andando em uma escada rolante, numa velocidade constante apenas para se manter no mesmo lugar; se diminuir a velocidade, vai andar paradoxalmente para trás e, se quiser avançar, terá de correr, se ainda tiver recursos para tanto.

Esta metáfora da escada, considerando o ambiente do mundo capitalista, de vida moderna e de vida líquida, possibilita explorar outras dimensões das idéias de Bauman. Se você não pára, como vai consolidar sua experiência de vida? Mas, se parar, você vai ser colocado para trás, a escada rolante da vida se encarrega disso, o que significa que você será um marginal do processo produtivo, ou seja, sem utilidade, inútil, quem sabe um lixo humano, apesar do tempo que se passou na escada produzindo, andando no ritmo certo.

Mas, apenas se manter na mesma posição não convém, pois existe uma competição muito grande nessa escada do mundo moderno, em particular no mundo do trabalho; você não está sozinho, a concorrência fará tudo para promover uma “destruição criativa” do que aí está posto, sem se importar de que aí existe um ser humano, nessa corrida, ignorando que “aquilo que essa criação destrói são outros modos de vida e, de forma indireta, os seres humanos que os praticam”.

As incertezas são muitas, prognósticos seguros são inimagináveis: “Numa sociedade líquido-moderna, as realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes porque, em um piscar de olhos,os ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em incapacidades”. (grifo meu)

A incapacidade assombra o homem moderno, a vida líquida gera sofrimento e adoece, pensar em torna-se “lixo”, parar ou andar para trás são coisas que ninguém deseja, nem que o objetivo seja ajudar alguém que caiu, pois isso significa se distanciar da realização de desejos, sonhos ou projeto de felicidade individuais. O lixo que não se quer, é amontoado ao redor de todos, traduzidos m desempregados, viciados, famintos, abandonados pela sociedade líquida, marginalizados de toda sorte: “quanto mais os lixos crescem em altura, mais paira o perigo das derrocadas: basta que uma lata, um velho pneu ou um garrafão rebole para que a avalanche aconteça”, como diz Ítalo Calvino.

Mas, a latinha que é citada por Calvino pode ser um lixo não exterior, e sim interior, criado pelo mundo moderno e incutido na cabeça das pessoas, trazidos nos ideais impostos; e que, quando não são alcançados, geram muitas decepções, frustrações e profundos sofrimentos de toda ordem.

Contudo, a metáfora da escada continua, a vida continua em um eterno recomeçar; as incertezas do mundo líquido-moderno são muitas; as experiências pessoais não significam muita coisa; você nunca está preparado. E se faltar energia nessa escada que você está? Avalanches de pessoas são transformadas em sucatas humanas, haja vista o que está acontecendo no mundo real japonês, neste momento. Como disse Bauman: “em um piscar de olhos...”, e não caiu só uma latinha, ou, melhor dizendo, não caiu só uma pessoa, até o momento se fala em mais de cinco mil pessoas mortas, consequência da revolta da Natureza e da ação do homem. Tudo volta ao zero, se transforma; os paradigmas precisam ser revistos, bem como o projeto de felicidade que está a justificar tudo o que está acontecendo na humanidade. Será que prazer e felicidade são deste mundo? Será do Reino de Deus?

Em Coríntios 2, Paulo escreve: “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”. Já somos felizes e não sabemos? Ou nossos desejos infindáveis nos escravizam?

Haverá o dia em que a Ciência e a Religião se unirão na busca desta resposta que transcende a cultura de consumo material, desenvolvendo também a cultura de consumo espiritual, como forma de responder qual o sentido de vida num mundo líquido-moderno?

Homem Moderno


“Gatinho de Cheshire”, começou, muito timidamente, por não saber se ele gostaria desse tratamento: ele, porém, apenas alargou um pouco mais o sorriso.
“Ótimo, até aqui está contente”, pensou Alice. E prosseguiu: “Você poderia me dizer, por favor, qual o caminho para sair daqui?”
“Depende muito de onde você quer chegar”, disse o Gato.
“Não me importa muito onde...” foi dizendo Alice.
“Nesse caso não faz diferença por qual caminho você vá”, disse o Gato.
“...desde que eu chegue a algum lugar”, acrescentou Alice, explicando.
“Oh, esteja certa de que isso ocorrerá”, falou o Gato, “desde que você caminhe o bastante.”

CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. 2 ed. São Paulo, 2000.

O homem moderno é um homem sem qualidades, ele é livre para construir sua narrativa biográfica, tendo o consumo como referência.
Profa. Marília Romero falando do texto de Sílvia Pimenta.