Conferência Internacional com Michel Maffesoli


O Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da UECE, em parceria com o Instituto Norberto Bobbio, está promovendo um evento em que a conferência de abertura será O TEMPO DAS TRIBOS E A PÓS-MODERNIDADE, com o Emérito Professor Doutor MICHEL MAFFESOLI, da Université René Descartes, Paris V, Sorbonne, no dia 5 de setembro de 2011.

Gente, imperdível!!! Tem que se inscrever no site do evento:
http://www.uece.br/eventos/conferenciamaffesoli/

Deseducação virtual - Contardo Calligaris

Artigo publicado no Caderno Mais ! do Jornal Folha de São Paulo em 25.10.1998

Oitenta por cento dos americanos que hoje planejam comprar um computador alegam a educação de suas crianças como razão principal da aquisição. Noventa por cento dos eleitores americanos estão convencidos de que escolas munidas de computadores para os alunos proporcionam uma melhor educação. Por isso, 61% deles seriam favoráveis a um imposto federal para acelerar a introdução da informática nas escolas.

Em 1995, a Associação Americana dos Administradores de Escolas publicou uma pesquisa que perguntava a pais, professores e público quais talentos seriam decisivos para os estudantes do próximo século. A competência em informática e tecnologia das mídia apareceu em terceiro lugar, logo após as competências básicas (ler, escrever e fazer contas) e os "bons hábitos de trabalho".

Mais inquietante: entre os dez programas para crianças que foram best seller nos EUA em 1996, quatro eram destinados a crianças a partir dos três anos de idade. Existem hoje programas de computador para nenês de 18 meses. Estes fatos são lembrados por Jane Healy no começo de seu novo livro "Failure to Connect: How Computers Affect Our Children's Minds - For Better and Worse" ("Fracasso em Conectar: Como os Computadores Afetam a Mente de Nossas Crianças - Para o Melhor e o Pior", Ed. Simon & Schuster).
É suficiente para estabelecer de maneira convincente que reina hoje um lugar comum cultural, segundo o qual os computadores seriam indiscriminadamente bons para as crianças. Quanto mais e quanto mais cedo pudermos expor nossos rebentos à magia da tela, tanto melhor -assim parecem pensar pais e educadores de hoje. Há várias razões para isso.

Sem dúvida, faz tempo que os pais ouvem dizer que o acesso futuro ao mercado do trabalho será condicionado à competência informática.

Quem não souber usar computador irá para o brejo, nos dizem - esquecendo de acrescentar que a competência necessária pode ser adquirida em uma semana por qualquer adulto que saiba pensar (Healey, aliás, mostra que o acesso a esta competência não é nem sequer mais rápido para crianças que usaram computadores na escola).

Outra razão, mais importante, é ideológica. No espaço de duas décadas, o computador conquistou a aprovação pedagógica do público (leigo ou não). A coisa começou em 1980, quando Seymour Papert publicou seu famoso livro "Mindstorms: Children, Computers, and Powerful Ideas" ("Tempestades da Mente: Crianças, Computadores e Idéias Poderosas"). Nele, Papert apresentava o sistema Logo, uma linguagem simples, com a qual as crianças do futuro se tornariam não simples usuários de computadores, mas verdadeiros programadores. O sistema permitia levar qualquer criança a programar os movimentos de uma tartaruga para compor infinitas geometrias.

Desde esta época, aliás, as fortunas educativas do computador casaram definitivamente com o construtivismo, ou seja, com a idéia que é melhor e mais eficiente aprender colaborando na construção do saber do que incorporando noções já constituídas.

Em outras palavras, o saber deve ser construído pela criança, não herdado ou transmitido. O construtivismo é responsável pela desaparição (ou quase) dos livros de texto e referência. Também é o culpado pelo drama de inúmeras famílias modernas que ocorre quando as crianças recebem como tema de casa misteriosos "projetos de pesquisa" sobre temas dos quais elas ignoram tudo.

O computador é o coadjuvante perfeito nesta empreitada. Facilita o acesso às informações e mantém o sentimento (ou a ilusão) de uma ativa participação na produção do saber, quer seja pela atividade mecânica de procura, quer seja pelo aspecto lúdico de seu uso. Construtivismo e computador vieram assim tocar juntos uma musiquinha perfeita para os ouvidos do individualismo moderno: não devemos aprender nada de ninguém, pois somos, em nossa lúdica livre atividade, a fonte de todo saber e sabedoria.

Na época, eu fui absolutamente seduzido. Em 81 ou 82 (não lembro direito), Papert viajou a Paris para apresentar seu livro e, sobretudo, seu projeto pedagógico. Naquela ocasião, ele encontrou um pequeno grupo de psicanalistas, do qual eu fazia parte, que se interessava pelos efeitos psicológicos das novas tecnologias. Depois de uma hora em uma suíte de hotel transformada em laboratório de computação, lembro que consegui fazer que minha tartaruga (o cursor ativo do sistema Logo) traçasse um triângulo perfeito. Que maravilha! Enfim, quer seja graças à demonstração animada pela fé de Papert, quer seja pela leitura de seu livro, saí daquele encontro entusiasmado.

Nossas repentinas simpatias construtivistas encontraram, na época, o mais tétrico pessimismo antitecnológico, classicamente europeu. A maioria de nossos colegas previa que as crianças, se fossem educadas por estes instrumentos infernais (os computadores), se tornariam rapidamente psicóticas.

De fato, esta exagerada preocupação mal escondia uma resistência ideológica em defesa da tradição e das hierarquias mais tradicionais na transmissão do saber. Defender construtivismo e computadores parecia então uma atitude moderna e progressista. No entanto, o balanço destas duas últimas décadas é que nem o construtivismo nem os computadores fizeram milagres. Mas que também não há razão para voltar às pedagogias mais sombriamente hierárquicas ou expulsar os computadores da casa e da escola.

O livro de Healey justamente é uma voz sábia que escapa à alternativa entre otimismo tecnocrático e nostalgias ruralistas. Ele não é nem um panfleto a favor ou contra a tecnologia nem uma obra propriamente teórica. É sobretudo um esforço de bom senso. Pedagogos e pais encontrarão uma série de recomendações explícitas bem fundadas e muito apropriadas. Por exemplo: as crianças até os sete anos não precisam e não deveriam ser entregues às virtudes educativas dos computadores -nada de PC antes do primário.

O tempo de uso do computador para uma criança deve ser controlado. Uma hora por dia parece razoável, por motivos tanto físicos (vista, posição) quanto educativos. É absurdo pensar que qualquer estupidez computadorizada seja necessariamente melhor do que um bom programa de TV; este é um delírio hiperconstrutivista, segundo o qual uma idiotice livremente inventada ou criada seria sempre melhor do que qualquer coisa ensinada ou mais passivamente contemplada.

Em suma, nos anos 50 os pais de classe média que não tinham babá e deviam ambos trabalhar acolheram a televisão como um milagre. Podiam confiar as crianças à tela que se encarregaria de educá-las, informá-las, abrir para elas o mundo inteiro. A virtude educativa da televisão chegou até a inspirar projetos de uso da TV na própria sala de aula. Este idílio acabou logo: já nos anos 60 a babá luminosa se revelou (dizem) uma bruxa: alienava as crianças, as adequava a modelos decididos por escusos poderes ideológicos, sem contar que não podia ser muito boa para os olhos.

Tornou-se difícil, desde então, confiar nossos filhos e filhas à televisão sem experimentar uma certa culpa. O computador pareceu resolver estas dificuldades. Era uma nova tela, com toda a bola da TV nos anos 50 e na qual podíamos confiar, pois não só educava, abria ao mundo etc., mas sobretudo era interativa. Fim da alienação das crianças.
Fim da culpa parental. Era inevitável que os pais e os pedagogos acreditassem em tanta sorte. Ora, o livro de Healy nós dá outra má notícia: o computador também não é a babá perfeita. Vai ser necessário mesmo sacrificar um pouco de tempo e sentar com as crianças para conversar.

Contardo Calligaris é psicanalista e ensaísta, autor de "Hello Brasil" (Escuta) e "Crônicas do Individualismo Cotidiano" (Ática).

Cool Hunters



Lembram quando a gente falou em sala sobre os Cool Hunters, ou caçadores do cool? Pois aqui tem um vídeo muito bom pra gente compartilhar.

Texto do aluno Francisco Jurandir de Souza

Articulação excelente do nosso colega Jurandir entre os textos: Vida Líquida (de Zygmunt Bauman) e Leônia, do livro Cidades Invisíveis (de Ítalo calvino)

O texto de Bauman, retrata muito bem a vida de todos os seres humanos num mundo capitalista do séc. XXI, dito moderno ou contemporâneo, onde a cultura de consumo impregnada na mente das pessoas, aguça uma busca desenfreada para saciar suas necessidades e desejos objetivos e subjetivos, conscientes ou inconscientes, numa velocidade que já não permite nem mesmo identificar o que de fato se busca na verdade.

Segundo Bauman a “vida líquida” e a “modernidade líquida” estão intimamente ligadas e que a sociedade líquido-moderna “é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas das formas de agir”. (grifo meu)

Recentemente, ouvi de uma jovem de vinte anos a seguinte frase: “Eu não sei mais o que vou fazer da minha vida”, numa fala que expressa implicitamente angústia, dúvida e desamparo, característicos do mundo moderno, onde as pessoas se sentem sozinhas, abandonadas e inseguras, num claro contraponto ao mundo tradicional em que as instituições, principalmente a família, davam condições e normas de suporte à existência. A despeito de sua condição de vida, esta jovem não está sozinha quanto aos sentimentos expressados, ouço de muitos jovens depoimentos da mesma natureza, afinal, são manifestações de quem vive no âmago do mundo moderno; são muitas as incertezas e informações ambíguas que a vida líquida apresenta, numa fase de transição da humanidade que avançou muito na tecnologia das coisas e ainda muito pouco na tecnologia das pessoas para viver e conviver com a liquidez da vida.

Nesse contexto, cada um se sente como se estivesse andando em uma escada rolante, numa velocidade constante apenas para se manter no mesmo lugar; se diminuir a velocidade, vai andar paradoxalmente para trás e, se quiser avançar, terá de correr, se ainda tiver recursos para tanto.

Esta metáfora da escada, considerando o ambiente do mundo capitalista, de vida moderna e de vida líquida, possibilita explorar outras dimensões das idéias de Bauman. Se você não pára, como vai consolidar sua experiência de vida? Mas, se parar, você vai ser colocado para trás, a escada rolante da vida se encarrega disso, o que significa que você será um marginal do processo produtivo, ou seja, sem utilidade, inútil, quem sabe um lixo humano, apesar do tempo que se passou na escada produzindo, andando no ritmo certo.

Mas, apenas se manter na mesma posição não convém, pois existe uma competição muito grande nessa escada do mundo moderno, em particular no mundo do trabalho; você não está sozinho, a concorrência fará tudo para promover uma “destruição criativa” do que aí está posto, sem se importar de que aí existe um ser humano, nessa corrida, ignorando que “aquilo que essa criação destrói são outros modos de vida e, de forma indireta, os seres humanos que os praticam”.

As incertezas são muitas, prognósticos seguros são inimagináveis: “Numa sociedade líquido-moderna, as realizações individuais não podem solidificar-se em posses permanentes porque, em um piscar de olhos,os ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em incapacidades”. (grifo meu)

A incapacidade assombra o homem moderno, a vida líquida gera sofrimento e adoece, pensar em torna-se “lixo”, parar ou andar para trás são coisas que ninguém deseja, nem que o objetivo seja ajudar alguém que caiu, pois isso significa se distanciar da realização de desejos, sonhos ou projeto de felicidade individuais. O lixo que não se quer, é amontoado ao redor de todos, traduzidos m desempregados, viciados, famintos, abandonados pela sociedade líquida, marginalizados de toda sorte: “quanto mais os lixos crescem em altura, mais paira o perigo das derrocadas: basta que uma lata, um velho pneu ou um garrafão rebole para que a avalanche aconteça”, como diz Ítalo Calvino.

Mas, a latinha que é citada por Calvino pode ser um lixo não exterior, e sim interior, criado pelo mundo moderno e incutido na cabeça das pessoas, trazidos nos ideais impostos; e que, quando não são alcançados, geram muitas decepções, frustrações e profundos sofrimentos de toda ordem.

Contudo, a metáfora da escada continua, a vida continua em um eterno recomeçar; as incertezas do mundo líquido-moderno são muitas; as experiências pessoais não significam muita coisa; você nunca está preparado. E se faltar energia nessa escada que você está? Avalanches de pessoas são transformadas em sucatas humanas, haja vista o que está acontecendo no mundo real japonês, neste momento. Como disse Bauman: “em um piscar de olhos...”, e não caiu só uma latinha, ou, melhor dizendo, não caiu só uma pessoa, até o momento se fala em mais de cinco mil pessoas mortas, consequência da revolta da Natureza e da ação do homem. Tudo volta ao zero, se transforma; os paradigmas precisam ser revistos, bem como o projeto de felicidade que está a justificar tudo o que está acontecendo na humanidade. Será que prazer e felicidade são deste mundo? Será do Reino de Deus?

Em Coríntios 2, Paulo escreve: “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”. Já somos felizes e não sabemos? Ou nossos desejos infindáveis nos escravizam?

Haverá o dia em que a Ciência e a Religião se unirão na busca desta resposta que transcende a cultura de consumo material, desenvolvendo também a cultura de consumo espiritual, como forma de responder qual o sentido de vida num mundo líquido-moderno?

Homem Moderno


“Gatinho de Cheshire”, começou, muito timidamente, por não saber se ele gostaria desse tratamento: ele, porém, apenas alargou um pouco mais o sorriso.
“Ótimo, até aqui está contente”, pensou Alice. E prosseguiu: “Você poderia me dizer, por favor, qual o caminho para sair daqui?”
“Depende muito de onde você quer chegar”, disse o Gato.
“Não me importa muito onde...” foi dizendo Alice.
“Nesse caso não faz diferença por qual caminho você vá”, disse o Gato.
“...desde que eu chegue a algum lugar”, acrescentou Alice, explicando.
“Oh, esteja certa de que isso ocorrerá”, falou o Gato, “desde que você caminhe o bastante.”

CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. 2 ed. São Paulo, 2000.

O homem moderno é um homem sem qualidades, ele é livre para construir sua narrativa biográfica, tendo o consumo como referência.
Profa. Marília Romero falando do texto de Sílvia Pimenta.

Experiência de Consumo

Vocês lembram, na primeira aula de Comportamento do Consumidor, quando a professora pediu para os alunos descreverem uma experiêcia de consumo?

Pois aqui temos um trabalho excelete do aluno Carlos Muniz, do horário CD. Parabéns Carlos!

EXPERIÊNCIA DE CONSUMO:

Esse não era o primeiro que eu tinha, mas era diferente de todos os outros; seria completo em tudo aquilo que meu amigos haviam falado que seus carros tinham; teria todos os equipamentos necessários para ser um bom carro; eu não deixaria escapar nada que tivesse sido lançado.

Mas não foi tão simples assim. Primeiro, passei na casa dos três melhores amigos com bons carros para ter uma primeira noção do que o carro tinha que ter para estar entre os mais vistos da vizinhança. Semanas depois, vendo e revendo, já tinha me decidido. Para ser o carro perfeito ele deveria ter: o aerofólio do carro do Tiago, os quais ele mostrava com orgulho, por ser o único dos amigos a ter; não podiam faltar os aros espelhados que tinham no do André, além do jeitão de carro de corrida do carro do Guilherme. Já podia até imaginar, seria tudo o que eu sempre quis na vida e não podia esperar nem mais um minuto por isso.

Chegando à loja, não demorou muito pra eu encontrar ele ali, parado na vitrine como quem olhava para mim, com todos os itens recomendados, brilhando mais que todo o resto da loja, que passava a não importar mais. Quase nem notei quando a atendente chamou perguntando se era aquele mesmo que eu queria; era como se não houvesse mais som algum e já desse pra imaginar o barulho do motor. A moça de cabelos enrolados e olhos claros me perguntava, com um sorriso no rosto, se era pra embrulhar pra presente, e eu, respondendo com um sorriso maior ainda, quase que gritando de entusiasmo, disse: “- Sim! Pode empacotar!”. E meus pais, que não podiam estar fora desse momento, olhando para a minha felicidade com o produto nas mãos, não puderam deixar de comprar. Era meu primeiro carro de controle remoto, com alcance sem limite de distância, ele iria até onde eu pudesse imaginar, o melhor presente aos seis anos de idade.

E aí? Vocês gostaram? Podem aguardar mais trabalhos da disciplina.



Trechos retirados da música:
Eduardo e Mônica - Legião Urbana

"Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram.
(...)
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema "escola, cinema
clube, televisão".
(...)
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro, artesanato, e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar...
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar (nããão)
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular"